quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Resiliência?

Por Glicéria Gil

Olhando para trás, é difícil acreditar que estejamos vivos.
Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou air bag.
Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em frascos de
remédios, portas, ou armários e andávamos de bicicleta
sem capacete, sem contar que pedíamos boleia.
Bebíamos água directamente da mangueira e não da garrafa.
Gastámos horas a construir os nossos carrinhos de rolamentos
para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que nos
tínhamos esquecido dos travões. Depois de colidir com algumas
árvores, aprendemos a resolver o problema. Saíamos de casa de
manhã, brincávamos o dia inteiro, e só voltávamos quando se
acendiam as luzes da rua. Ninguém nos podia localizar.
Não havia telemóveis. Nós partimos ossos e dentes, e não
havia nenhuma lei para punir os culpados. Eram acidentes.
Ninguém para culpar, só a nós próprios. Tivemos brigas e
esmurramos uns aos outros e aprendemos a superar isto.
Comemos doces e bebemos refrigerantes mas não éramos
obesos. Estávamos sempre ao ar livre, a correr e a brincar.
Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu
por causa disso. Não tivemos Playstations, Nintendo 64,
vídeo games, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, surround sound,
telemóveis, computadores ou internet. Nós tivemos amigos.
Nós saíamos e íamos ter com eles. Íamos de bicicleta
ou a pé até casa deles e batíamos à porta. Imaginem tal coisa!
Sem pedir autorização aos pais, por nós mesmos! Lá fora, no
Mundo cruel! Sem nenhum responsável!
Como conseguimos fazer isto? Fizemos jogos com bastões e
bolas de ténis e comemos minhocas e, embora nos tenham
dito o que aconteceria, nunca nos caíram os olhos ou
as minhocas ficaram vivas na nossa barriga para sempre.
Nos jogos da escola, nem toda a gente fazia parte da equipa.
Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção…
Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros.
Eles repetiam o ano! Que horror! Não inventavam testes extras.
Éramos responsáveis pelas nossas acções e arcávamos com as
consequências. Não havia ninguém que pudesse resolver isso.
A ideia de um pai nos protegendo, se desrespeitássemos alguma
Lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis. Imaginem!
As nossas gerações produziram alguns dos melhores compradores
de risco, criadores de soluções e inventores.
Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas ideias.
Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade,
e aprendemos a lidar com isso.

(Autor desconhecido)

5 comentários:

Rosa Silvestre disse...

Outros tempos, Glicéria, nos quais existia uma esperança em vez de um tempo de incertezas...
Bjinhos, RS.

Glicéria Gil disse...

É verdade Rosa! De vez enquanto gosto de revisitar o passado para melhor compreender o presente.
abraço

ourlovevan disse...

...e eramos felizes!
Beijs

Xinha disse...

Estão tão longe que quase parece que foram fantasia...

Glicéria Gil disse...

Olá Tia Verinha e Xinha,
Tudo indica que este post remete para um "sentimento fininho" que se vai instalando de mansinho...:)
abraço